domingo, 20 de setembro de 2009

REVOLUÇÃO FARROUPILHA (1835 – 1845)


Hoje, 20 de setembro, é comemorada a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos. Esse foi o mais destacado conflito do período regencial, e só chegou ao fim cinco anos depois da coroação de D. Pedro II.
No século XIX, os pampas do Rio Grande do Sul eram importantes fornecedores de charque (carne-seca salgada), couro e sebo. A produção era voltada, em sua maioria para o consumo interno brasileiro, principalmente do sudeste. Dessa carne comiam tanto pobres e escravos, como ricos.
Nas estâncias (fazendas) trabalhavam homens livres e escravos, mas todos viviam sob rigidez de obediência aos senhores de terras e gados.
Havia muitas reclamações dos estancieiros ao governo regencial porque a charque vindo da Argentina e do Uruguai, entrava no Brasil sem pagar nenhuma tarifa alfandegária especial, e concorriam com os latifundiários do Rio Grande do Sul. Ao contrário do que ocorria com o charque uruguaio e argentino, o sal, indispensável para salgar a carne na fabricação do charque e para alimentar o gado, pagava impostos pesados. Por isso, os fazendeiros gaúchos queriam protecionismo alfandegário, pagar menos impostos ao governo central (uma grande parte do que era pago no Rio Grande do Sul tinha que ir para o Rio de Janeiro) e maior autonomia para a Província. O governo central não cedeu e o conflito foi inevitável.

David Canabarro e Bento Gonçalves: dois importantes líderes da Guerra dos Farrapos.


A Revolução Farroupilha, ao contrario da Balaiada e da Cabanagem, teve pouco apoio dos setores sociais mais pobres. Os peões de gado, os escravos, os roceiros e os artesãos foram usados para os interesses e idéias dos latifundiários. Interesses que não eram seus e idéias que não eram suas. Farrapo era o apelido dos liberais exaltados. Os farrapos nada tinham de esfarrapados, já que a maioria possuía terras e muitas cabeças de gado.
Em 1835, o rico fazendeiro Bento Gonçalves comandou o exército que ocupou a cidade de Porto Alegre e depôs o governador nomeado pelo Rio. Assim, começava os dez anos de guerra civil. Nessa guerra misturavam-se “ideais de liberdade com interesses particulares, heroísmo e assassinatos, laces tolos e episódios aventureiros, bem ao estilo do romantismo da época” (Schmidt – História Crítica). Bento Gonçalves estava preso na Bahia, quando a Sabinada o libertou. Junto com os gaúchos estava Giuseppe Garibaldi, futuro herói da unificação italiana, que apaixonou-se por uma brasileira chamada Anita.
Para alguns rebeldes, que a princípio só eram federalistas, parecia não haver outra solução: o Rio Grande do Sul precisava separar-se do Brasil, e talvez uma união com o Uruguai e a Argentina fosse o melhor desfecho. Fundaram a República Piratini, e partiram para Santa Catarina, para fundar a República Juliana. Apesar de todo esse movimento, a maioria dos farroupilhas sabiam que a separação do Brasil seria uma tolice: não era negócio abrir mão do mercado brasileiro. Bento Gonçalves não planejava a independência e deixou isso bem claro. O problema a ser resolvido, era mesmo a questão dos impostos abusivos e a questão do charque estrangeiro: “Uma administração sábia e paternal os teria indenizado de sacrifícios (...). A carne, o couro, o sebo, a graxa, além de pagarem nas alfândegas do país o duplo dízimo (...) exigiam iguais quinze por cento em qualquer dos portos do Império”.
O governo central estava muito mais bem preparado em dinheiro e armas do que os gaúchos, já que o café estava se expandindo sem parar e tornaria o Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo) a região mais rica do Brasil. Por essa razão, o Duque de Caxias conseguiu organizar o exército e sob seu comendo os inimigos eram “abatidos” a golpes de espada. Porém, os prisioneiros eram tratados com dignidade, principalmente os oficiais farroupilhas, homens de origem abastada. O governo central queria a reconciliação e precisava do apoio gaúcho nas guardas das fronteiras do sul. Ao final da revolução, os farroupilhas foram derrotados no campo de batalha e não ganharam o federalismo, mas, a “paz honrosa” os anistiou, e o charque passou a ser protegido das importações da concorrência.
Atualmente, grupos ligados aos direitos dos afro-descendentes acusam Caxias e o comandante farroupilha Davi Canabarro de propositalmente terem ordenado que os soldados negros assumissem as tarefas mais arriscadas no campo de batalha. Eram ex-escravos ou ainda cativos que contavam com sua libertação após a guerra.
De acordo com Mario Schmidt, especialmente no Rio Grande do Sul, aconteceu um elogio exagerado da Revolução Farroupilha. Os historiadores tradicionais e oficiais a viram como “uma epopéia de grandes heróis desinteressados e lutadores pela liberdade”. Como disse a historiadora gaúcha Sandra J. Pesavento, busca-se “legitimar o poder de um grupo na sociedade e ‘sacralizar’ seu mando, pela imposição de um passado dignificante, do qual não só a elite governante, mas todo o povo rio-grandense seria herdeiro”.

Bibliografia: Nova História Crítica – Mario Schmidt



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